Conselho Constitucional de Moçambique Proclama Resultados Eleitorais em Meio à Tensão Política



Nesta segunda-feira, 23 de dezembro de 2024, às 15h (horário local), o Conselho Constitucional de Moçambique anunciará os resultados finais das eleições gerais realizadas em 9 de outubro deste ano. A cerimônia será conduzida pela presidente do órgão, Lúcia Ribeiro, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo.

O anúncio incluirá os resultados das eleições presidenciais, legislativas e provinciais, encerrando um processo eleitoral que tem sido marcado por intensos protestos, acusações de irregularidades e confrontos violentos.

O Contexto das Eleições

Desde o anúncio preliminar dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), em 24 de outubro, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi declarada vencedora, consolidando seu domínio no poder desde 1975. Daniel Chapo, o candidato presidencial da FRELIMO, obteve 70,67% dos votos, enquanto Venâncio Mondlane, do partido PODEMOS, ficou em segundo lugar, com 20,32%.

No entanto, a oposição liderada por Mondlane não reconheceu os resultados, alegando fraudes e irregularidades no processo eleitoral. Como resposta, Mondlane entrou com um recurso junto ao Conselho Constitucional pedindo a revisão dos resultados e exigindo o que chamou de “reposição da verdade eleitoral”.

Tensão Pós-Eleitoral

A insatisfação com os resultados preliminares gerou protestos em várias cidades do país, frequentemente resultando em confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Segundo a Plataforma Eleitoral Decide, que monitora processos eleitorais em Moçambique, os números da crise são alarmantes:

  • Mortes: Pelo menos 130 pessoas perderam a vida;
  • Feridos: 2.000 pessoas ficaram feridas, incluindo 385 baleadas;
  • Prisões: 3.636 cidadãos foram detidos;
  • Desaparecidos: Cinco pessoas ainda não foram localizadas.

O impacto da instabilidade também se reflete na economia e no turismo. Em Sofala, por exemplo, foram canceladas 412 reservas de hotéis devido à insegurança na região.

O Papel do Conselho Constitucional

Desde o início das tensões, o Conselho Constitucional tem reiterado seu compromisso com a “verdade eleitoral”. Em 25 de novembro, o órgão afirmou estar trabalhando para garantir um resultado que respeite os prazos constitucionais e os princípios democráticos.

A decisão do Conselho, cuja legitimidade é inapelável, será crucial para o futuro do país. Mondlane destacou a importância do momento ao afirmar, em 16 de dezembro: “As palavras que vão sair da boca da Presidente do Conselho Constitucional vão determinar se o país vai para a paz ou para o caos.”

Expectativas e Desafios

A proclamação dos resultados nesta segunda-feira ocorre em um momento crítico para Moçambique. A Constituição determina que a nova legislatura deve começar até 20 dias após a publicação dos resultados eleitorais, mas os protestos e a insatisfação popular colocam o país em uma encruzilhada.

Se por um lado a decisão do Conselho Constitucional pode trazer um desfecho para a crise eleitoral, por outro, ela também pode intensificar as tensões caso não seja aceita pela oposição. Em um cenário já marcado por violência, as próximas ações do governo, da oposição e da sociedade civil serão determinantes para definir o rumo político e social de Moçambique.

Um Apelo ao Diálogo

Líderes nacionais e internacionais, incluindo o Papa Francisco e António Guterres, secretário-geral da ONU, já apelaram ao diálogo e à reconciliação como meios para alcançar a paz. Guterres, em recente encontro com a ministra Verónica Macamo, destacou que o diálogo e o respeito à lei são fundamentais para a resolução da crise.

Enquanto a população aguarda o anúncio desta segunda-feira, o desafio maior será transformar esse momento de instabilidade em uma oportunidade para fortalecer as instituições democráticas e reconstruir a confiança da sociedade no processo eleitoral.

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